Dora Kramer - o estadão
247 - A
amabilidade que a presidente Dilma Rousseff confere no trato a Eduardo Campos
em sua rota de dissidência para uma possível candidatura presidencial em 2014,
dissimula o clima de tensão pré-eleitoral que o governo e o PT criam em torno
dele.
É
possível detectar a mesma dualidade no governador de Pernambuco: reafirma sua
aliança com o Planalto e ao mesmo tempo tensiona a relação com um discurso
crítico. Mas aqui vamos tratar de Eduardo Campos apenas da perspectiva do
governo, como é vista a possibilidade de candidatura, se ameaça a reeleição de
Dilma, se haverá retaliação ou se ainda há espaço para um "meia volta,
volver".
Atuar
com mãos de ferro calçadas em luvas de veludo é um conceito difundido por
Napoleão Bonaparte sobre a eficácia da combinação de gestos cordiais com atos
firmes na política, que define bem o espírito da estratégia governista
enunciada no primeiro parágrafo.
O
governo não vai brigar - a não ser quando, e se, a luta for necessária - com
Eduardo Campos, mas também não vai deixar de fazer suas escaramuças para
dificultar-lhe a trajetória em direção à candidatura.
A
mais explícita, e exemplar dó que virá adiante, aconteceu em recente visita da
presidente a Pernambuco, onde fez discurso cobrando lealdade de aliados e
ressaltando que o crescimento do Estado deve-se aos inúmeros e vultosos (R$ 60
bilhões, segundo dados do Planalto) investimentos federais.
Com
isso, atua no campo seguro - por ora o único - do possível desafiante com sua
fórmula "dois em um": Dilma e Lula.
O
governo tenta limitar seu discurso de eficácia administrativa a Pernambuco e também
esvaziá-lo transferindo o êxito para a esfera federal, vale dizer, o PT.
O
jogo talvez não sei a assim tão combinado, mas fato é que parte do PT alimenta
a tensão cobrando que o governo o trate desde já como adversário e outro grupo
faz o papel moderado para manter a porta aberta para o caso de recuo.
E
por que Eduardo Campos recuaria depois de avançar tantas casas, mais não seja
para acumular forças para disputa futura (2018) da Presidência?
Na
visão do governo, por causa das enormes dificuldades práticas que terá de
enfrentar. Uma delas, a ambiguidade do discurso, forçosamente de oposição e
pragmaticamente de situação. "Haverá o momento em que terá de se definir e
aí é que começarão as pressões dos governadores, dos deputados e dos ocupantes de
cargos federais", argumenta um ministro do PT.
Ele
vislumbra obstáculos intransponíveis na formação de alianças regionais, na
fragilidade da máquina do PSB em comparação às estruturas do PT, PMDB, do PSDB;
e na disputa por uma vaga no segundo turno com o tucano Aécio Neves.
Outro
ministro do PT, como o citado acima com ótimo acesso à presidente, considera
que na hora das definições ainda prevalecerá a tradicional disputa de petistas
contra tucanos. E acrescenta: "Nos últimos anos quem tentou ser terceira
via saiu das eleições menor do que entrou: Anthony Garotinho, Ciro Gomes,
Heloisa Helena, Marina Silva e Cristovam Buarque".
“Na
opinião dele, por mais que digam que a disputa entre PT e PSDB cansou o
eleitorado, a alternativa não tem sido um espaço político consistente”.
Ambos
apostam (torcem?) que Eduardo Campos pensará melhor e concluirá pelo benefício
do passo atrás. Acreditam que, na hipótese de um segundo turno entre Aécio e
Dilma - nesse momento, no governo, a palavra de ordem é dizer que o mineiro tem
anos luz de vantagem sobre o pernambucano - o governador ficaria
necessariamente com a presidente.
Apontam
dois motivos. Um: porque a disputa da vaga do segundo lugar definirá o nome
mais forte da oposição em 2018. Outro: se Aécio ganhar teria a vantagem da reeleição,
em tese adiando os planos de Eduardo Campos para 2022.
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