A
impunidade em casos de violência contra comunicadores é um dos principais
responsáveis pelo aumento no número de assassinatos e ameaças a jornalistas e
outros profissionais de mídia, segundo Carlos Lauría, coordenador do Comitê de
Proteção aos Jornalistas (CPJ) para as Américas. Ele estima que aproximadamente
85% dos assassinatos de jornalistas ficam impunes em todo o mundo. Em
entrevista à Agência Brasil, Lauría disse que o relatório do Comitê de Proteção
aos Jornalistas indica que em 2012 o Brasil ocupava o terceiro lugar nas
Américas, atrás da Colômbia e do México, e o 11º no mundo, no ranking de
impunidade de crimes praticados contra jornalistas, motivados diretamente por
suas reportagens.
A
publicação Ataques à Imprensa – Jornalismo na Linha de Frente, sobre a situação
dos países americanos no que diz respeito às ameaças à liberdade de imprensa,
foi entregue por Lauría a autoridades brasileiras há cerca de um mês. Para
criar o ranking, a instituição analisou o período de 2002 a 2011 e adotou a
proporção de casos não solucionados de jornalistas assassinados por um milhão
de habitantes. No Brasil, o índice ficou em 0,026. De acordo com a pesquisa,
cinco assassinatos ficaram sem solução no país na última década.
O
líder do ranking foi o Iraque, onde não houve nenhuma condenação em 93 casos de
assassinato de jornalistas ocorridos na última década. A maior parte desses
crimes foi cometida quando o país estava em guerra. Segundo o relatório, não
tiveram solução no país 2.906 casos de jornalistas assassinados, por 1 milhão
de habitantes no mesmo período. “O fracasso em condenar os responsáveis por
esses crimes é um problema global porque os profissionais ficam sem a proteção
do Estado e os agressores têm a tranquilidade que não sofrerão consequências pelos
atos que cometeram”, disse.
No
caso brasileiro, Carlos Lauría enfatizou a preocupação em relação aos casos de
violência contra blogueiros, lembrando que em 2012 foram mortos Mário Randolfo
Marques Lopes, editor de um site de notícias em Barra do Piraí (RJ), e o
jornalista e blogueiro Décio Sá, no Maranhão. “A maior utilização das
ferramentas digitais para divulgação de informações e de opiniões por
comunicadores que trabalham, muitas vezes de forma independente, é motivo de
preocupação, porque, pelo que temos visto, os torna muito vulneráveis. Quando
se trata de profissionais que atuam no interior do país, em locais com acesso
mais difícil à Justiça, as ameaças são ainda maiores”, destacou.
O
coordenador do CPJ também chamou a atenção para as ações movidas por
empresários, políticos, funcionários públicos, entre outros, que, alegando
ofensas à honra ou invasão de privacidade, tentam impedir a publicação de
notícias de interesse público ou retirar de sites matérias já publicadas.
Em
2010, o CPJ registrou um assassinato de profissional da imprensa em razão de
sua atividade no Brasil. Em 2011 foram três e no ano passado, quatro. A
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
registrou 119 assassinatos de jornalistas em 2012, o maior número desde que o
organismo começou a contabilizar esses episódios, em 1997.
O
CPJ foi criado em 1981 por um grupo de correspondentes norte-americanos com o
objetivo de defender os direitos de colegas que atuavam em ambientes
repressivos e perigosos. A primeira campanha resultou na libertação de três
jornalistas britânicos presos na Argentina em 1982 durante a cobertura da
Guerra das Malvinas. (Da Agência Brasil - Thais Leitão)
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